Nutrição Clínica

Dispepsia: Compreendendo os Sintomas, Tratamentos e o Papel Essencial do Nutricionista

A dispepsia, frequentemente referida como “má digestão”, é uma condição gastrointestinal comum, caracterizada por um conjunto de sintomas incômodos na parte superior do abdômen. Essa condição, que pode ser orgânica (com causa identificável) ou funcional (sem causa estrutural aparente), afeta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos [1, 2]. Este artigo detalha os sintomas, as abordagens de tratamento e a fundamental contribuição do nutricionista no manejo da dispepsia.

 

O que é Dispepsia?

Dispepsia é um termo médico que descreve a presença de dor ou desconforto na região superior do abdômen, muitas vezes recorrente [1]. A Sociedade Coreana de Neurogastrologia e Motilidade (KSNM) define a dispepsia funcional (DF) como uma manifestação crônica e recorrente de sintomas gastrointestinais na ausência de doenças como úlcera péptica, refluxo gastroesofágico ou pancreatite [2].

 

Sintomas Comuns da Dispepsia

Os sintomas da dispepsia podem ser variados e impactar o dia a dia. Os mais frequentemente relatados incluem [2, 3]:

  • Dor epigástrica: Dor localizada na parte superior central do abdômen.
  • Queimação epigástrica: Sensação de ardor na mesma região.
  • Saciedade precoce: Sentir-se satisfeito anormalmente cedo durante uma refeição.
  • Plenitude pós-prandial: Sensação de inchaço ou peso no abdômen que persiste após comer.
  • Náuseas, arrotos e inchaço abdominal: Embora a inclusão desses sintomas no diagnóstico de dispepsia funcional não seja consensual, eles são frequentemente associados à condição.

 

Linhas de Tratamento

O tratamento da dispepsia é multifacetado e deve ser individualizado, considerando a causa e a intensidade dos sintomas [1, 2].

 

  1. Tratamento Medicamentoso

Para a dispepsia orgânica, o tratamento foca na causa subjacente. Em casos de infecção por H. pylori, a terapia de erradicação com antibióticos é recomendada [2]. Para alívio sintomático, os inibidores de bomba de prótons (IBPs) são frequentemente a primeira linha de tratamento para dispepsia funcional, reduzindo a produção de ácido estomacal. Outras opções incluem antagonistas do receptor de histamina-2 e procinéticos, que auxiliam no esvaziamento gástrico [2, 4].

 

  1. Mudanças no Estilo de Vida

Alterações no estilo de vida são cruciais para o manejo da dispepsia. Recomenda-se evitar tabagismo, reduzir o consumo de álcool e alimentos gordurosos, praticar exercícios aeróbicos regularmente e implementar estratégias para gerenciar o estresse e a ansiedade, como meditação ou yoga [2, 5].

 

A Alimentação e a Dispepsia

A dieta desempenha um papel fundamental no controle dos sintomas dispépticos. As diretrizes atuais enfatizam a importância de evitar alimentos que induzam ou exacerbam os sintomas [2, 6]. Recomendações gerais incluem:

 

  • Refeições menores e mais frequentes: Fracionar as refeições ao longo do dia pode otimizar a digestão.
  • Mastigação adequada e alimentação consciente: Comer devagar e mastigar bem os alimentos facilita o processo digestivo.
  • Evitar alimentos gatilho: Alimentos ricos em gordura, frituras, bebidas gaseificadas, cafeína e condimentos podem agravar os sintomas. Embora a evidência para restrições dietéticas amplas seja limitada, a identificação de gatilhos individuais é importante [2, 6].
  • Não deitar imediatamente após as refeições: Esperar um período de 2 a 3 horas antes de se deitar pode prevenir o refluxo e o desconforto.

 

O Papel Essencial do Nutricionista

O nutricionista é um profissional de saúde indispensável no manejo da dispepsia, especialmente da dispepsia funcional. Sua expertise permite uma abordagem individualizada e baseada em evidências, que vai além das recomendações genéricas [6, 7].

 

Um nutricionista pode auxiliar o paciente com dispepsia de diversas formas:

  • Avaliação Nutricional Completa: Realiza uma análise aprofundada do histórico alimentar, hábitos de vida e estado nutricional do paciente.
  • Identificação de Gatilhos Alimentares: Através de diários alimentares e testes específicos, o nutricionista pode ajudar a identificar os alimentos que desencadeiam ou pioram os sintomas, orientando uma dieta de eliminação seletiva.
  • Elaboração de Plano Alimentar Personalizado: Desenvolve um plano alimentar que considera as necessidades individuais, preferências e tolerâncias, garantindo a adequação nutricional e minimizando os sintomas.
  • Educação Nutricional: Orienta sobre a importância da mastigação, hidratação, fracionamento das refeições e outras estratégias para melhorar a digestão e o bem-estar.
  • Prevenção de Deficiências Nutricionais: Garante que, mesmo com restrições, o paciente receba todos os nutrientes essenciais, prevenindo a desnutrição [2].

 

A intervenção de um nutricionista é crucial para otimizar o tratamento da dispepsia, promovendo alívio dos sintomas e melhorando a qualidade de vida a longo prazo. Consultar um nutricionista é, portanto, um passo fundamental para quem busca um manejo eficaz e personalizado dessa condição.

 

Conclusão

A dispepsia é uma condição complexa que exige uma abordagem abrangente. Embora o tratamento medicamentoso e as mudanças no estilo de vida sejam importantes, a intervenção nutricional personalizada, guiada por um nutricionista, é essencial para o sucesso a longo prazo. Ao compreender os sintomas e adotar estratégias alimentares adequadas, os indivíduos podem recuperar o conforto digestivo e melhorar significativamente sua qualidade de vida.

 

REFERÊNCIAS

[1] SOCIEDAD ESPAÑOLA DE PATOLOGÍA DIGESTIVA. Dispepsia. Disponível em: https://www.saludigestivo.es/wp-content/uploads/2023/07/mes-saludigestivo-dispepsia-min.pdf. Acesso em: 20 out. 2025.

[2] NUTRITOTAL PRO.Dispepsia Funcional: diretrizes para diagnóstico e tratamento. Disponível em: https://nutritotal.com.br/pro/material/dispepsia-funcional-diretrizes-para-diagnostico-e-tratamento/. Acesso em: 20 out. 2025.

[3] BMJ Best Practice.Avaliação da dispepsia – Diagnóstico diferencial dos…. Disponível em: https://bestpractice.bmj.com/topics/pt-br/769. Acesso em: 20 out. 2025.

[4] SILVA, V. R. F. da et al.TRATAMENTOS FARMACOLÓGICOS EMERGENTES PARA DISPEPSIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA. Brazilian Journal of Health Review, v. 7, n. 2, p. e68399, 2024. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/3368. Acesso em: 20 out. 2025.

[5] RODRÍGUEZ, M. Á. C. et al.Recomendaciones de manejo de la dispepsia funcional del Grupo de Trabajo de Motilidad y Trastornos Gastrointestinales Funcionales de la SEGHNP. Anales de Pediatría, 2025. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1695403325000955. Acesso em: 20 out. 2025.

[6] SCIENCEPLAY.Manejo Nutricional na Dispepsia Funcional. Disponível em: https://www.scienceplay.com/en/post/manejo-nutricional-na-dispepsia-funcional. Acesso em: 20 out. 2025.

[7] AFYA.Nutrição nas desordens de dor abdominal funcional. Disponível em: https://portal.afya.com.br/pediatria/espghan-2025-nutricao-nas-desordens-de-dor-abdominal-funcional. Acesso em: 20 out. 2025.